Do romantismo ao descaso
Os botecos estavam sem muitos debates após mais um longo período sem o tradicional futebol aos domingos. O grupo do WhatsApp, assim como o Facebook, também não foram os mesmos nos últimos meses. Mas este clima monótono finalmente acabou, torcedor!
O início de ano do futebol nacional é marcado pelos já charmosos campeonatos estaduais. Os regionais são apenas aperitivos para o que vem na sequência temporada, mas nem sempre foram menosprezados pelas equipes consideradas grandes.
O Campeonato Paulista, por exemplo, entre os anos 80 e 90, sempre foi extremamente disputado, seja no campo ou nas arquibancadas, todos desejavam esta conquista assim como qualquer outro campeonato, traço que escancara a mudança não só dos clubes, mas também dos torcedores que compraram a ideia e deixaram a competição em segundo plano.
Há quem defenda o fim do mais romântico campeonato. Há quem prefira manter a tradição. Há quem defenda uma reformulação do Paulistão. Há os que acreditam que a extinção do torneio seria o atestado de óbito do futebol.
Vamos deixar o clubismo de lado. Pensemos no futebol brasileiro como um todo. Inicialmente, no mais básico: a competitividade.
Ainda utilizando o Campeonato Paulista para exemplificar, imagine uma possível exclusão da competição. Quais seriam as consequências desta atitude? Logo de início, é possível apontar algumas equipes que poderiam deixar de existir, pois o calendário de muitos clubes são preenchidos apenas com o regional, fato inadmissível que expõe a má organização das entidades que controlam o esporte no Brasil.
Esta provável falência dos clubes acarretaria com a não revelação de novos talentos, ou seja, mais um prejuízo que influenciaria diretamente na qualidade do espetáculo em solo nacional.
É de suma importância lembrar que os clubes do interior sempre contribuíram com a formação de atletas que, anos depois, se consagraram em grandes equipes da capital Paulista. Neto, ídolo corintiano, despontou no tradicional Guarani, assim como o atacante Careca, que também deu seus primeiros chutes em Campinas, mas foi no clube que carrega o nome da cidade que ganhou maior reconhecimento.
A exclusão de campeonatos regionais, além de minimizar a competitividade, poderia acelerar a espanholização do futebol brasileiro. Quando digo acelerar, levo em consideração outro fator que contribui par tal circunstância: a injusta divisão de cotas de TV imposta aos clubes.
Na última edição do Paulistão, os quatro grandes da cidade arrecadaram R$ 17 milhões, seguidos da Ponte Preta, que embolsou cerca de R$ 7 milhões e os demais participantes receberam por volta de R$ 2,7 milhões.
Quais são as chances de um clube que recebe menos da metade do seu adversário se destacar na competição? A possibilidade de destaque é mínima, mas ocorre, ora por incompetência, ora por descaso dos grandes clubes.
Há uma discrepância gigantesca entre o time pequeno e o grande, isso interfere diretamente na qualidade do produto vendido ao torcedor. Acredito que todos nós, consumidores, desejamos ter o melhor para o futebol do país.
Esta breve análise tem o intuito de abrir os olhos do torcedor e do esportista que deseja o bem do esporte no país. Quando houver um maior equilíbrio financeiro, o futebol colherá bons frutos.