O inexplicável Gigi
Primeiramente, é válido destacar um personagem antes de falar de Buffon: Stephan Lichtsteiner. Sempre muito eficiente e simples em campo. Ajudou e muito nas conquistas dos últimos anos, teve uma temporada incrível em 2014/2015 e sempre foi um jogador de muita de raça e voluntariedade na lateral-direita. Chegou em 2011 e foi um dos responsáveis pela solidez e consistência defensiva da Juventus. Claro, com a idade houve uma queda do desempenho, mas mesmo assim, sempre foi importante para equipe. Fará muita falta, assim como o Buffon.
Não queria que o jogo acabasse. 2-0 contra o Hellas Verona pouco me importava, seja com o título garantido ou não. Foi, e ainda é, impossível acreditar na finitude de algumas coisas. Nesse ponto, a carreira de um jogador de futebol acaba sendo algo realmente algo cruel. Por 15, 20, até 25 anos, você acredita naquele cara, torce por ele, às vezes mais do que por um time. Mas não é só um cara, convenhamos. Ele é um ‘ídolo’, um patamar diferenciado dos demais. Por tudo que ele ganhou, por tanta habilidade no que faz e por tanta lealdade que demonstrou. Mas só ídolo basta?
É errado colocar Buffon em alguma categoria, qualquer que seja. Se você o coloca em uma caixa, ele não cabe, ele não encaixa. Gigi é simplesmente um daqueles que você nunca mais vai ver algo igual. Não é só um goleiro, não é só um ícone bianconero, ou da própria Itália, se preferir. É um algo a mais, que também é inexplicável.
Realmente, é angustiante aceitar que acabou. Como alguém tão diferenciado, tão especial, e ainda tão importantíssimo para o clube, tem o mesmo tempo que todos nós. Quarenta anos? Queria Buffon até os noventa se fosse para continuar jovem como ele ainda é, fazendo defesas de tirar o ‘gol’ da boca do narrador e transformar num ‘Como assim ele alcançou essa bola?’.
A sua história se encerra, por mais injusto que seja com ele, e com todos nós. Pelo menos tivemos o prazer de ser contemporâneos a esse jogador com uma definição possível – único.
Desde o primeiro jogo até essa despedida ainda inenarrável, ninguém demonstrou tanto o que é ser goleiro quanto Gigi. Ele mostrou na prática, sendo uma unanimidade, mas conseguiu ir além e nos transmitir em palavras a sensação e o dever de estar ali:
“Eu tinha 12 anos quando dei as costas para você. Eu neguei o meu passado para garantir um futuro seguro. Uma escolha de coração, de instinto. Desde o dia em que eu parei de olhar para sua cara, porém, eu comecei a te amar. A te proteger. A ser a sua primeira e última linha de defesa.
Eu prometi a mim mesmo que faria tudo para cobrir o seu rosto, ou o máximo que pudesse. Toda vez era doloroso, tendo que me virar e perceber que eu te deixaria decepcionada.
Somos sempre opostos e complementários, como a lua e o sol, forçados a viver juntos embora nunca sendo capazes de nos tocarmos. Companheiros de time para a vida a quem é negado o contato.
Há mais de 25 anos eu dei meu voto, jurei te proteger e guardar você contra seus inimigos.
Eu sempre pensei no seu bem-estar acima do meu. Toda a vez que eu virava para te ver eu tentava suportar a sua decepcionante expressão de confrontação, enquanto sempre conscientemente me sentia culpado.
Eu tinha 12 anos quando dei minhas costas para o gol e vou continuar a fazer isso desde que minhas pernas, minha cabeça e meu coração aguentem”.
Não sei quanto suas pernas, mas certamente seu coração e cabeça aguentariam para sempre.
Grazie, Buffon.